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Como fazer experiências em urbanismo? Como observar em urbanismo? Sobre cidades, as dificuldades em se fazer ciência se dão em múltiplas escalas. Poderíamos começar a lista justamente pelo "múltiplas". Apesar das variáveis que parecem mais óbvias, o conjunto de variáveis que contribuem para o funcionamento das cidades é notadamente inúmero. A cada momento, uma nova pesquisa identifica um novo aspecto da cidade, mais uma característica ou mais um fenômeno ou evento que contribuem para o pulsar que estamos tão acostumados. Essa primeira questão é simplesmente um problema de observação: para onde devemos olhar. É, especialmente, um problema de complexidade: quantas são as dimensões (as variáveis, os aspectos) que definem a cidade?​

​Um outro problema é o do tempo. Quanto tempo duram os ciclos da cidade, quanto tempo elas duram, em quanto tempo se dá seu crescimento, amadurecimento, sua morte? Em quanto tempo ela sofre uma alteração e manifesta qualquer adequação, reação a essa modificação? Algumas cidades têm milênios de existência. Outras ainda poucas décadas ou anos. Quantas coisas acontecem nelas ao mesmo tempo? Como observar e analisar milênios de existência, num tempo de vida humana que mal encosta num século? É, de novo, um problema de observação: de escala de tempo.​

​Por fim, identificado um fenômeno específico de interesse, como observá-lo, ou testá-lo o suficiente? Com que frequência esse fenômeno acontece para se fazer qualquer inferência? Conseguimos controlar as variáveis observadas, examinar o efeito de cada uma delas? Conseguimos, aliás, induzi-lo na hora que quisermos? Temos aqui, mais uma vez, um problema de observação: o escrutínio do fenômeno. E, a dificuldade de experimentação em "laboratório": a que custo se promove qualquer alteração urbana, ou ainda, como reproduzir a mesma num laboratório? O que seria esse laboratório?​

​A proposta do uso de simulações entra como uma tentativa de resposta a essas questões. Ajustar a escala do tempo de observação, a seletividade dos objetos de observação e o custo da reprodutibilidade. É claro que a simulação não se impõe sem questionamentos, sem comprometimentos. Entretanto, ela colabora substancialmente com a construção de uma teoria e/ou hipótese que eventualmente baliza observações no mundo real das cidades. Uma simulação é essencialmente uma representação, uma ideia de como funciona algo no mundo real, por exemplo. Operar computacionalmente uma ideia permite explorar os seus limites, quais as consequências de cada uma das premissas, como as partes interagem entre si, o impacto de cada variável. Por ser uma representação, ela tem aí a sua limitação: ela só dá respostas relativas ao funcionamento imaginado e ou contido na forma como é representada, que, embora seja inspirado no mundo real, não é atrelado a ele. Uma simulação, como qualquer hipótese ou representação, não tem obrigatoriamente um compromisso com a realidade, ela pode, e talvez até tenda, a ser completamente desconexa. Resta então, aos pesquisadores, entendê-las como uma sugestão de como pode funcionar a realidade,  então procurar indícios dessa similaridade e analogias, e reformulá-las sempre que se mostrar necessário.​

​Nesta seção, tratamos o porquê de uma simulação e a relação com os processos de representação da realidade promovidos pela ciência. Em seguida, apresentamos a descrição do simulador construído para realização desta tese, apelidado de Redinha, uma breve sugestão de potencial para seu desenvolvimento, assim como a sua disponibilização online e a versão para download e instalação. O código fonte também está disponível via github.

tese de doutorado - daniel lenz costa lima

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